quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Três da manhã. Abre os olhos e em seguida aperta as pálpebras novamente. Tem medo. Pode ver clarões em meio à penumbra. As presenças perturbam. Reza o Pai-Nosso 7 vezes. Agora pode fechar os olhos por outra razão que não o medo. Dorme um sono tranqüilo. As sombras de foram. A manhã chegou chorosa. Dia triste, com águas a lavar as faces e sujar os vidros. A dor nubla a visão. A palavra execrável foi pronunciada, desencadeando constrangimento. Continua a caminhar. Já não pode ficar aonde está, e também não tem para onde ir. Triste sorte da flor que brota entre espinhos. Linda. Solitária. Inacessível. O outono a trouxe ao mundo. Precede o verão, antecede o inverno. Nunca conheceu a primavera. Não está disposta a renunciar seus desejos de quimera.
A dor pode ser uma forma de prazer.

Ultraviolet.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O dia permanece nublado e o vento balança as árvores sem trazer frio à pele. Estranho esse aconchego de um tempo cinza. Ouve vozes que enaltecem uma elevação espiritual. Ela ainda não sentiu nada, exceto a falta de 565 páginas envoltas em capa dura que lhe apaziguavam a alma, traziam de volta os sonhos e recompunham a calma. Quase uma injeção de alguma substância revigorante. O riso ao fim do orgasmo. Agora procurava no ambiente traços do mundo imaginário que deixara para trás. O sino toca e o silêncio do telefone corta. Um sinal sonoro. Volta ao processo. Ainda espera submissa e contida alguma manifestação de reconhecimento. Ela vê-se gueixa japonesa, de faces brancas, olhos baixos e joelhos dobrados.
Ultraviolet.
A exuberância verde em volta remete a tempos imemoriais de terras longínquas. A letra trai, o café não sustenta. Ela está cercada para o seu próprio bem e sabe da proposta, mas as mensagens não lhe atingiram. Ela ainda está imune, como se produtos de sortilégios atuassem sobre sua pele e olhos, tão imóveis a tudo, tão iguais nos reflexos. Primeiro dia de uma clausura consentida. Solidão entre estranhos, sufocamento em lugar aberto. É só um choro contido a muitas rotações. Não sabe ainda o que lhe espera. Papel e caneta é a única coisa que lhe resta. Suficiente para não ficar vulnerável. Assim se considera armada. Pode então reverter o silêncio. Pode traduzir em códigos de linguagem os labores de uma alma atormentada.
Ultraviolet.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Quero algo que me economize palavras e me absolva da subjetividade dos gestos.

Uv.