sábado, 5 de março de 2011

COMO SE EU FOSSE DAVI

Clamei a ti no dia da angústia, que foram muitos, e não obtive resposta. Cheguei a desacreditar de sua existência, me perguntado onde estavas que não ouvia a dor ou presenciavas meu sofrimento diário. Talvez estivesse ocupado com algum faminto, mais necessitado que eu. Ou quem sabe acompanhasse o último suspiro de algum desgraçado que lutava por manter o espírito atrelado ao corpo.
Eu sou mais uma no hall dos que não vêem saída, e não lhes resta outra coisa a não ser acreditar em ti. Questiono tua presença em meio à adversidade, mas não deixo de atribuir-lhe todas as coisas boas que me acontecem. Mesmo que efêmeras. Mesmo que banais. Mas a minha alma atribulada me trai. E muitas vezes eu vacilo e volto atrás. Mas não dura. Não adianta. A dúvida de tê-lo ao meu lado é melhor que a certeza do contrário. E o silêncio que se segue após as minhas lágrimas acaba sendo reconfortante a ponto de fazer-me olhar em volta a procurar-te no vazio. Minha voz anda meio embargada nesses últimos tempos, então resolvi escrever para, materializando em tinta e papel, tentar ser mais clara (ou obter resposta rápida): você realmente vê quando eu clamo?
Ultraviolet. 

SELO "O BLOG NECESSÁRIO"


Recebi este selo da Celly Monteiro, do blog "A Fantasista", acompanhado de uma crítica belíssima. Me emocionei com suas palavras, pois mais que uma exímia contista, ela é uma inspiração para mim e sou extremamente fã de seus contos fantásticos. Agradeço a homenagem e em breve publicarei a lista dos blogs a que repasso.

Uv.
Uma estrada sem curva, sempre constante, difícil de medir. Do destino, não sabia se perto ou distante. Por ela caminhava. O referencial enganava. E fazia sol de dia, e luz branca à noite, e os ventos sopravam frios, e a chuva molhava a terra, abafava o ar. Às vezes as forças faltavam. Não tinha perspectiva de chegar a algum lugar. Tudo era muito igual. A passagem contaminava a visão. Mas continuava. Mais um pouco em busca do irreal. Imaginação criava fatos. Desejo confundia vontade. E a estrada se mantinha soberana imutável. Sempre em frente, sempre terra, sempre nada, sempre o caminho para o que se espera. Senta. Levanta. Mais um pouco. Visão estática. Mente cauterizada. Há saída? Pra onde? Alguém espera? Por que tão reta?
...
Ele queria a sorte de andar pelos vales, sentir a carga de hormônios liberados ante a próxima curva. Estar no alto. Olhar pra baixo. Sentir pequeno no lago. Ser rei nos ares. A estrada reta não lhe traz sentido. E esse silêncio castiga os ouvidos.

Ultraviolet.