domingo, 28 de agosto de 2011

DOMINGO

Canções de paz para uma alma tranquila.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A PORTA

Era um palácio de muitos cristais e luzes e som de sinfonias suaves que brotavam da relva ao redor. Tudo era força e poesia. Era brilho e melodia. A porta ficava como a guardiã da pureza e de toda a beleza desmedida.

Ela vivia lá. E um dia, curiosa como criança em fase prima, como de posse de segredo a ser passado adiante, ela quis ver além do que lhe era revelado. A porta deixava passar imaginação.        
       
Ela com vestido rodado, as meias até os joelhos, o sapato preto delicado deu o primeiro passo. Olhos fixos no objetivo. Mas o pai que a tudo assiste tranqüilo dá o aviso:

_ Quando você sair, não vera mais a porta.

Ela se volta e apenas sorri.

_ Se você sair, não verá mais essa porta.

E ambos olham-se num ímpeto de amor que não pode ser descrito. Os semblantes impassíveis.

Linda garota em flor.

Ela se vira e vai. Atravessa a porta. Caminha firme. Mas quando olha para trás, o palácio já não existe. A porta desapareceu no ar. Ela está sozinha em outra dimensão.
A princípio tudo é excitante. O mundo é desconhecido, o novo causa fascínio. E os passos são decididos. Um campo amplo, aberto, coberto com flores amarelas. E a pequena garota destemida caminha tranqüila pelo campo. O coração palpitante de alegria, mas ainda sente reverberar nos seus ouvidos a voz que docemente dizia:

_ Você não mais verá a porta.

Ao fim de muitos dias, o sol do novo mundo parece cansado. E as cores já não são tão vibrantes. A criação é indiferente a sua passagem. O campo Acaba. A floresta inicia adiante. Ela para. Observa. Decide.

Ela quer. Ela pode. Ela vai.

A linda garota de olhos negros quer conhecer tudo o que ainda não lhe foi mostrado. E o coração palpita novamente. E as delícias do proibido a assaltam como o abraço apertado de Espíritos do Vento. A floresta é convidativa. Tudo está sob controle e ao ensaiar o primeiro passo, surpreende-se com um pensamento íntimo:

_ Você não verá mais a porta.

Atropela a consciência. Já é tarde para voltar atrás. E também não quer negar o orgulho. A garota com vestido rodado, meias até os joelhos, sapato preto delicado e olhos firmes agora é dona de si. Confia no amor inestimável do pai, mas quer saber o significado da liberdade.

O interior da floresta atrai olhares. Ao redor, acima, o chão, é tudo música. E ela segue. Ela dança. E a noite chega soberana. A lua é mãe de todos os sedentos. O mundo gira, roda e ela acompanha. A música é acelerada. E cada vez mais, as guitarras ficam mais pesadas e sutilmente, os violinos vão ficando gradativamente sinistros. Lux Aetherna. Ainda existem risos. Mas o tempo muda, e os sinos anunciam tempestade. A chuva vem pra trazer à tona todas as mágoas.

O caminho fica sombrio. E num piscar de olhos, tudo é misto de som e fúria. E a garota corre. Corre buscando uma saída. E subitamente a floresta termina. Ela está num pântano. Afunda os tornozelos na lama. Tenta dar jeito como pode. Limpa-se da melhor maneira que consegue. E pula os galhos e anda torto e dribla o cansaço. De todas as direções, de todos os cantos de sua alma, ouve muitas vozes, diferentes timbres, diferentes sons, mesma mensagem, todas sobrepostas:

_Porta, porta, a porta, você não verá mais a porta, volta, porta, corta, lembra, porta.

Tentou ignorar. Mas o corpo doía. Sentou num lugar seco, encostou numa árvore, fechou os olhos. Pela primeira vez sentiu-se sozinha.


********************CONTINUA********************


Ultraviolet.