terça-feira, 12 de outubro de 2010

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UV.
Sou Pietà. A Maria de mármore fadada a carregar nos braços as carnes sem vibração de um filho que de fato nuca foi seu. Você de fato nunca foi meu, apesar de estar em mim, dentro de mim. Ao sabor do meu desejo. Sempre quando me esqueço. E me entrego... E me regenero. Não cabem cenas, não há clemência. Eu preciso de algo que me entorpeça da realidade. Mas não pode aparecer no exame. Então escolho isso. Escolho você. Não sou essa coisa louca, desfreada. Não sou ninfomaníaca. Não... Sou carente, depressiva, devo favores ao silencio... E já enjoei do gosto das minhas lágrimas, não as bebo mais: deixo escorrer direto até molharem meus seios. Limpo-os percebendo sua forma, então me lembro e logo depois me esqueço... E me entrego, e aproveito, e me delicio, e depois acaba. A gente levanta e vai embora. Você não dorme ao meu lado, me abraçando em concha do jeito que eu gosto. Você vai. Você passa. Eu fico. Fico ali, no momento anterior ao delírio. Volto ao ponto inicial. A roda gigante que me tira debaixo, me eleva e em seguida me traz abaixo novamente, nunca sem deixar aquela nostalgia que me faz voltar a ela. A fonte que eu bebo se esgota. Sou nômade das coisas abstratas. Sou beduína de um deserto de monotonia que procura água pouca e escassa, nunca suficiente para estocar, sempre a conta da saciedade. E assim sobrevivo. E assim eu vivo. Tenho medo de ter me acostumado. Pode tudo ainda ser apenas um conto inventado. (...). Mas sou Pietà, e serei eu quem será retratada em pedra, com um amor morto nos braços.
Ultraviolet.