terça-feira, 28 de julho de 2009

Ela terminou de cantar aquela estrofe e ficou imaginando como seria bom se fosse afinada. Não basta só paixão para que as coisas sejam belas. E ela definitivamente não sabia cantar. Então se conformou em ser apenas amante das artes sem, contudo, ser uma artista. Voltou para a mesa e tomou o último gole da sua cerveja importada e não sentiu falta do cigarro. Não fumava mais. Ela era a prova viva de que dava pra parar. Talvez pra ela fosse mais fácil, pois interrompeu o vício no início. Descobriu que aquele caniço recheado entre os dedos não substituiria a falta de certas coisas em sua vida. Então não viu sentindo em continuar, custava caro. E ela não suportava perder dinheiro. Era capaz de agüentar tudo. Suportava a solidão, a chuva na hora de sair, o ar seco do inverno, a comida fria no restaurante, a falta de habilidade pras artes. Tudo, menos jogar dinheiro no lixo. Não... Porque acordava todas as manhãs querendo permanecer de olhos fechados, e ia a um lugar onde não queria mais voltar, pra ganhar algumas poucas notas no fim de um longo mês e voltar pro seu apartamento alugado e viver modestamente, quase feliz em certas horas, senhora de si. Não ia queimar nota e pulmão assim. Sentou no sofá um instante e olhou a estante cheia de livros, todos lidos, e mais que isso, queridos. Fitou o de mitologia, querendo estar em outro lugar. Depois o de psicologia e cogitou uma auto-análise. Durou 3 segundos a idéia: dava preguiça até de começar. Por fim, parou os olhos naquele de poesias. Esse reacendeu uma velha chama. Um antigo desejo, quase dos tempos de criança, em que ela, entre menina e mulher, queria morar em versos. Queria ser o alvo de linhas tortas, se não musicadas, feitas de tinta num papel amassado, obras de olhos apaixonados, capazes de ver além do que se pode enxergar. Talvez assim, da sua dor fosse feito o inverso. Ela queria de um poeta, ser o universo
Ultraviolet.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Hei! Olá! A cidade frenética com suas cores de inverno e cheiro de chuva, recheada de raios de sol pelas ruas. Ela está no meio, com botas puídas e casaco colorido montando visual graciosamente jovial, convidando os outros ramos da Árvore de Abraão a lhe olharem ali, linda, jovem e segura. Gosta de andar feliz, passos firmes pela rua, olhar decidido, rosto sério. Bela rainha de um castelo de cartas. Quem dera poder satisfazer todos seus desejos de quimera. Olha denovo. Vale a pena encontrar pessoas desprendidas. Vale a pena acreditar na vida.
Uv.

domingo, 19 de julho de 2009

Ouvindo ritmos do oriente me juntei a você em pensamento. Lembrei sim, e quase pude ver denovo sua cara faceira quando chegava em minha casa e pedia pra tocar as músicas do mediterrâneo, e então se jogava no sofá e deixava-se levar pelos acordes do santuri. Naquela hora se transportava... mas logo voltava e me tirava pra dançar, uma dança meio louca, tanto quando frenética, que sempre acabava no chão, entre risos e juras de amor eterno, sempre interrompidas por um beijo incompleto. Eu gosto de você, e talvez nem seja por seu gosto incomum nem seu modo autêntico de ver o mundo, dando ao meu, cores reais. Talvez seja porque você em mim é muro, como aquele que dividiu a Alemanha em duas: a próspera e a caótica, e porque você não me reprova por eu ser assim bipolar. Você tem alma de artista, e quando estou ao seu lado não tem meio termo – é comédia ou tragédia – você nunca deixa ficar em cima do muro! Muito vivo, muito intenso, não sei o que achou de tão interessante em mim, tão cinza e boba. Talvez você goste de procurar as belezas escondidas em meio ao caos. Lembra quando a gente queria ir nas férias pra Argentina? Passamos a noite toda conversando e fazendo planos, e por fim, acabamos acampados naquela cachoeira aqui perto mesmo. E apesar se ser assim inconstante, eu gosto de você. E quando olha nos meus olhos de mangá, enxerga minha alma. E não se importa por eu ser dependente de papel e caneta e sabe que “em mim há muitas mulheres e algumas ninfetas”. Nossa sintonia é perfeita, e apesar de tudo, não seremos dois velhinhos fofos que caminharão de mãos dadas pela praça, pra aproveitar o sol da manhã. Entre nós há algo profundo, e somos autênticos demais pra nos tornamos comuns. E esse é seu grande pavor. Então em acordo abrimos mão dessa convivência diária e prolongada, e é aí que percebo que a sua ausência em mim funciona como uma auto - deleção. Lembra da parte caótica? Agora sou toda ela. Não somos um casal e talvez nunca seremos. Mas nunca é uma coisa muito concreta, quero algo mais variável. Quero você vulnerável, pra que eu possa cuidá-lo e então talvez você perceba que precisa de mim, tanto quanto eu preciso de você. Vamos fazer outro acordo: fica comigo só essa noite e depois só naquelas que forem escuras. Eu sei que você vai rir dessas minhas idéias escusas, e não me importo, porque me delicio com suas gargalhadas. Enchem meus ouvidos, onde são transformadas em ondas de satisfação que percorrem meu corpo. Eu adoro a sua voz. Eu te amo, não quebra esse o elo. Você me levou ao paraíso, não me deixa agora no inferno.
Ultraviolet

quinta-feira, 16 de julho de 2009

DA ORGANIZAÇÃO

Tédio com hora marcada.

terça-feira, 14 de julho de 2009

MELÍFLUO

Ela não sabia desenhar sequer uma flor que não fosse torta, mas se entretinha projetando casas. Todas pequenas, acolhedoras e pensadas pra uma só pessoa. Sonho de liberdade extrema. Desejo de autonomia pra andar descalça e depois por os pés no sofá. Hahahaha... Sabia que não faria isso, era só uma metáfora pra quebrar regras bobas. Simplicidade, era isso que queria. Uma vida sem muitas explicações. Um lugar pra estreitar os laços com a amiga Solidão. Só que dessa vez, sem nenhuma interferência. Queria livros espalhados pelo chão, queria chuva na janela e café quente sobre a mesa. Talvez um filme na sexta feira. Enquanto desenhava, os sonhos a acalentavam e o Tempo lá fora passava sutil, dando ao momento toques de eternidade. Olhou pela última vez os traços disformes, e sonolenta como estava, deixou-se cobrir pelo cobertor de Morfeu.
Ultraviolet

sábado, 11 de julho de 2009

Ela era amante do ócio. Acordou com as meias do dia anterior e tentando lembrar de alguma coisa que jurou não esquecer. Tinha sede. Foi ate a cozinha, passou pelo espelho e gostou dos cabelos bagunçados. Ela era assim, ia na contra-mão do resto do mundo. Não de todo o mundo; das mulheres do mundo. Abriu a geladeira, pegou aquela garrafa pela metade, encheu o copo até a borda e bebeu em grandes goles. Acabou bebendo mais do que devia e não se sentiu tão bem. Talvez nem fosse por isso. Talvez tivesse visto que a água não lavou suas mágoas. Ou talvez fosse a falsa sensação de sede mesmo, como aquelas que tinha quando sonhava que bebia muita água, mas nunca se saciava, por que não era real, assim como não era real aquilo que pensava ser. Odiava a idéia de ser uma idiota que se achava muito esperta, mas sempre sorria de si ao pensar sobre o assunto. Voltou pra sala, ligou o som e tentou escolher o que gostaria de ouvir, sabendo-se incapaz. Só o que sabia agora é que sairia mais uma vez atrasada. E ainda assim perambulou por mais algum tempo. Não combinava com responsabilidades. Queria ser livre, mesmo que fosse pra fazer nada. Foi pro quarto, se jogou na cama e observou atentamente os reflexos alegres que o sol projetava em sua parede através da cortina rendada. Pensou que nunca mais veria aquilo. Não daquela maneira. Então se divertia ao máximo com as luzes dançantes a sua frente. Parecia uma criança daquela forma: rosto lívido e sorriso doce. Oh! Garota que com tão pouco se agrada... Não entendia porque a julgavam complicada. Não entendia porque precisava sair dali. Queria somente ficar, não planejava o que vinha depois. Não imaginava que uma hora o sol iria se pôr.
Ultraviolet.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

DOS FATOS

Percepções disformes de idéias nasci-mortas.
Ela trocou o almoço pelos chocolates e não se deu ao trabalho de tirar os pijamas. Já eram quase duas da tarde, e ainda assim, nada havia sido feito. Mas ela não enxergava isso. Preocupava-se demais com o futuro, e acabava deixando de lado o presente. O passado era tudo o que tentava não lembrar. De vez em quando falhava... Mas tudo bem, já passou. Não era tão simples assim. Nunca é. Nada é simplesmente fácil. Principalmente para ela, que quando precisava levantar um pouco mais cedo, achava que merecia comoção universal. Realmente não entendia aqueles que diziam não precisar dormir. Mentira, eles precisam sim, mas dizem não querer, por que perdem o que irá acontecer ao seu redor. Tudo o que ela queria era se desligar desse mundo de ataques cardíacos. Então dormia longas horas fora-de-hora, sonhava sonhos confusos, e acordava tentando lembrar de alguma coisa que julgava ser capaz de compreender, se visse novamente aquela imagem. Vida vazia. Foi ao quarto e abriu o guarda-roupa, desejando infantilmente que lá houvesse uma passagem pra alguma terra mágica. Riu da idéia e se perdoou depois, lembrando que não era desse mundo. Ou pelo menos isso explicava a sua insatisfação geral com ele. É. Ela era assim: precisava de respostas pra tudo o que lhe atribulava, e se contentava quando as achava, mesmo que não fossem lógicas. É preciso acreditar em algo, do contrário, pequenos gestos se tornam atos de coragem, como o de respirar, por exemplo. Achou o que procurava: uma caixa toda decorada com recortes de revistas, e nela, havia cartas velhas e papéis rabiscados, alguns de própria autoria, outros ganhos. Sentia saudade desse tempo, em que as palavras podiam ser apalpadas. Não tinha grandes simpatias pelo cristal líquido, achava-o muito frio. Tirou de lá de dentro aquele envelope mais amarelo, fechado com um adesivo. Dedilhou a letra disforme, quase um código, e mais uma vez aquela onda de pesar e alegria percorreu-lhe o corpo. Gostava de decifrar aquelas mensagens, porque junto ao destinatário, imaginava-se um código binário, 1 e 0, os dois juntos; completos. Não era mais assim. Abriu o papel e releu uma frase ao acaso. “Gosto da forma como você dorme em meus braços depois do amor e antes do amor, e sempre acorda assustada, como que procurando algo, e sem encontrar, contenta-se com minha boca. Acho que nem você mesma sabe o que quer”.Mesmo sorrindo, sentiu as faces rubras ao se imaginar sendo observada daquela maneira. Mínimos detalhes percebidos por olhos de apaixonado. Tudo agora era lembrança e quem sabe, esperança. Ausências são eternas? Ou mudanças nunca chegam para alguns? Desistiu de cogitar finais de histórias inacabadas.


Ultraviolet.
Dia escuro como as sombras que pairam sobre sua cabeça enquanto espera o lento rastejar do tempo. Lá fora, as ruas queimam sob um céu vermelho sangue, dando a impressão de que nada pode resistir sem marcas. A espera toma conta de tudo – tudo que não passa de um grande nada. Vazios frios e gélidos, como daquelas cavernas úmidas de paredes azuladas, em que se diz “oi” e ouve-se o eco. Não era bem isso que sentia, mas algo teria de ser cogitado, pra saber-se viva. A inércia em grau máximo anula os sentidos. Nada racional pode parecer lúcido. Nada lúcido faz doer menos.
...

Ela tirou uma chave dos bolsos que não abriria sua porta. Caminhou lenta enquanto calculava rápido. “Quanto vale tudo isso que eu não tenho?” Olha pra frente: vêm carros na contra - mão, vêm anjos pra afastar a escuridão. Vem chuva pra inundar o seu verão. Ela não sou eu.