terça-feira, 29 de setembro de 2009

60 SEGUNDOS

Música alta. Cortina rendada. Mente vazia. Inabilidade nas mãos. Papel manchado. Batida legal. Sombra na janela. Perna doendo. Posição comodamente desconfortável. Outro impulso pra fechar os olhos. Melhor esquecer. Ansiedade atrapalha. Lembrar de levar o lixo. Se der tempo, pintar as unhas. Manhã foi embora sem avisar. A fome ainda não veio. Alguém vai chegar levando embora a paz. Voz vai quebrar o silêncio. Coração bate devagar. Olhos borrados de preto. Alma contaminada. Gosto amargo na boca. Doce som nos ouvidos. Marasmo tira pra dançar. Passado assombra. Tempo passa. Olhos procuram quem não está. Contração da boca forma um nome. Paciência se aproxima do fim. Outro capítulo finalizado em reticências. Se pudesse dizer alguma coisa, seria assim: [
].
Ultraviolet.

domingo, 27 de setembro de 2009

MOFO

"Mother fucker Rock'N'Roll"...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ela matava o tempo imaginando histórias para os desconhecidos que passavam pela rua. “Aquela de vestido roxo com corte de cabelo moderno e óculos legal deve ser descolada. Parece popular, será que é feliz?” Como chegou mais cedo onde devia e não gostava de atrair olhares em virtude de seu ócio, relia mensagens antigas no celular. Até as mais inspiradas já não lhe causavam emoção. Era somente um ato mecânico, sabia o próximo passo. Pensou no quão difícil era ser previsível. Sim, saber-se vigiada já lhe trazia constrangimento, revelada então, desnuda ante olhos especialistas, a sensação chegava próximo ao pânico. Mais que depressa balançou disfarçadamente a cabeça, talvez as idéias feias se desprendessem. Olhou envolta, não mudou a fisionomia. As mensagens já não interessavam mais. Um minuto, um olhar, paredes brancas, quadro cafona, anti-sala pequena, cadeira dura, revistas velhas, cesto de palha no chão. Relógio marca mais um quarto de hora. A recepcionista atende mais um telefonema com uma irritante cortesia. É, até pra ser legal com as pessoas tem limite. Educação demais fica chato. Ou talvez fosse só ela infectada pelo atraso alheio, produzindo venenos insípidos. Um rangido entrecortado. Expectativa. Um chamado. Alívio.
Uv.
O sono venceu o antídoto. Já não sou mais eu, é a outra que fala por mim. Ela é má. Eu sou pior. Talvez melhor. Depende de quem vai ser a vítima. Não controlo impulsos, inclusive esse que me joga na cama e me deixa lá inerte, enquanto a vida aqui fora, acontece.
Uv.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009


O calendário mostra dias de um mês anterior
E eu permaneço sobre leve torpor
Idéias vagas já não se encontram
Tudo vive livre em dias incertos
Nada pode me isentar dos males modernos

Em mim, entrevejo ninfas e borboletas.
Nos lábios o gosto amargo do último beijo
Misturado com doce perfume das violetas
Não foi suficiente para subjugar meu desejo

Vou-me embora de mim
Desertar da vida inerte
Mergulhar no sono eterno
Revelar o terrível e o belo

Nada importa quando a saudade clama
Nas linhas que escrevo perco o rumo
Meus sonhos agora chafurdam em meio à lama
O mal ressurge de lugares profundos

Não tenho pressa
Não tenho sono
Espero tranqüila o ressoar das horas
E quando você chegar talvez perceba
Com alguma dificuldade ou até surpresa
Seu lugar não está mais vago

E tudo que um dia nos fez uno
Dando razão a atos insanos
Dignificando temas profanos
Já não existe mais
Terá sido lançado junto ao cais

Perdidos pra sempre em meio às águas
Não seremos justificados através de lágrimas
E de joelhos diante de todos nossos medos
Estupefato assistirá o triste desfecho

A Esperança morreu antes do Amor
E esse, desesperado, se matou.
E você não percebeu nada
Nem pôde deixar de falar na hora errada.

Brinda comigo a última chama
Deixa o vinho trazer-lhe certa ardência
E ao olhar minha face diáfana tome tenência
Que eu já não sou mais que uma estranha.

Ultraviolet.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

BOMBORDO

O dia triste derrama suas águas como lágrimas a lavar essas faces pálidas e disformes. É o remorso. “A vida que poderia ter sido e que não foi”. Agora ela anoitece e relembra o passado de forma errada, retocada. Não pode. Não foi bem assim. Manipular fatos para justificar atos nunca rendeu nenhuma opção. Acredita em destino. É muito frágil para decidir. Melhor adiar isso também. Melhor confiar a alguém. Não a ela. Somente protela. Enquanto isso junta os cacos, essas finas lâminas afiadas que um dia foram sonhos polidos, para fazer novos castelos. Vão cair em breve. Estão trincados. Mas são belos, claros. Vendo-os prontos, senta e espera - logo vem a queda. Assiste a tudo inerte. E não sente nada, já está acostumada. Ela precisa disso. Ela gosta de procurar a beleza perdida em meio ao caos. E também se perde, afinal.
Ultraviolet.

ESTIBORDO

O frio paralisa. Turva a visão e confunde a mente esse ar gelado. As respostas aos estímulos, quando não inexistentes, são lentas. Será isso mesmo? Perdi os sentidos ou será essa nuvem gélida e azul a me envolver? O frio para mim é azul. Azul-claro nos devaneios de uma sinestésica. O frio traz ao meu corpo espasmos e a minha mente, o fim. Desculpa amor, é que teu calor não é suficiente para a minha hipotermia.
Uv.