"A morte não é um estado final, é um Império."
Esse texto não será publicado, não será lido, não será percebido. Assim como eu. Esse texto serve só pra que eu não chore, não me sufoque com o ódio que me domina, que me vence. Não me preocupo com marcas de estética nem com aquilo que me apodrece por dentro. Caminho certa rumo à morte em dias vazios, sem história ou legado a deixar. Só aquilo que eu guardo pra mim, dentro de mim a me acompanhar nesse tempo estático. Tudo é igual. Os dias, os lugares, as comidas. Nada me faz bem. Nada me envenena menos. As noites são idênticas. Justo a noite, esta que tanto me atrai, me fascina. Mas as grades da minha cela são feitas de escuridão. O perigo ronda lá fora e aqui dentro também. Foi plantado. Esse ódio grita, exige pensamentos maus (que surgem sem demora), clama por um crime, o derramar de um sangue que não vai justificar nada. Nem minimizar os transtornos. Já cogito trocar minha cela abstrata por uma real. É só o desespero que vê na morte anistia. Não mais eu. Dessa vez fico. Por que me entregar? Nada fica encoberto. A loucura já me contaminou. Minhas mãos são trêmulas, meu paladar é amargo. Meu olfato é fétido mesmo em meio às flores. Detesto flores. Detesto vida. Não posso amar o que me foi negado. Não posso esperar que haja beleza em meio ao caos. A esperança que conheço é verde. Do mesmo tom dos cadáveres em putrefação. Do inchaço pós-morte emana um líquido. É dele que eu bebo. Fui enterrada viva.
Ultraviolet.