sexta-feira, 10 de julho de 2009

Ela trocou o almoço pelos chocolates e não se deu ao trabalho de tirar os pijamas. Já eram quase duas da tarde, e ainda assim, nada havia sido feito. Mas ela não enxergava isso. Preocupava-se demais com o futuro, e acabava deixando de lado o presente. O passado era tudo o que tentava não lembrar. De vez em quando falhava... Mas tudo bem, já passou. Não era tão simples assim. Nunca é. Nada é simplesmente fácil. Principalmente para ela, que quando precisava levantar um pouco mais cedo, achava que merecia comoção universal. Realmente não entendia aqueles que diziam não precisar dormir. Mentira, eles precisam sim, mas dizem não querer, por que perdem o que irá acontecer ao seu redor. Tudo o que ela queria era se desligar desse mundo de ataques cardíacos. Então dormia longas horas fora-de-hora, sonhava sonhos confusos, e acordava tentando lembrar de alguma coisa que julgava ser capaz de compreender, se visse novamente aquela imagem. Vida vazia. Foi ao quarto e abriu o guarda-roupa, desejando infantilmente que lá houvesse uma passagem pra alguma terra mágica. Riu da idéia e se perdoou depois, lembrando que não era desse mundo. Ou pelo menos isso explicava a sua insatisfação geral com ele. É. Ela era assim: precisava de respostas pra tudo o que lhe atribulava, e se contentava quando as achava, mesmo que não fossem lógicas. É preciso acreditar em algo, do contrário, pequenos gestos se tornam atos de coragem, como o de respirar, por exemplo. Achou o que procurava: uma caixa toda decorada com recortes de revistas, e nela, havia cartas velhas e papéis rabiscados, alguns de própria autoria, outros ganhos. Sentia saudade desse tempo, em que as palavras podiam ser apalpadas. Não tinha grandes simpatias pelo cristal líquido, achava-o muito frio. Tirou de lá de dentro aquele envelope mais amarelo, fechado com um adesivo. Dedilhou a letra disforme, quase um código, e mais uma vez aquela onda de pesar e alegria percorreu-lhe o corpo. Gostava de decifrar aquelas mensagens, porque junto ao destinatário, imaginava-se um código binário, 1 e 0, os dois juntos; completos. Não era mais assim. Abriu o papel e releu uma frase ao acaso. “Gosto da forma como você dorme em meus braços depois do amor e antes do amor, e sempre acorda assustada, como que procurando algo, e sem encontrar, contenta-se com minha boca. Acho que nem você mesma sabe o que quer”.Mesmo sorrindo, sentiu as faces rubras ao se imaginar sendo observada daquela maneira. Mínimos detalhes percebidos por olhos de apaixonado. Tudo agora era lembrança e quem sabe, esperança. Ausências são eternas? Ou mudanças nunca chegam para alguns? Desistiu de cogitar finais de histórias inacabadas.


Ultraviolet.

4 comentários:

  1. "Tudo agora era lembrança e quem sabe, esperança. Ausências são eternas? Ou mudanças nunca chegam para alguns?"

    Liiindo demais o texto, o desfecho também ficou ótimo. Gostei daqui virei mais vezes.
    bjs

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  2. gostei tbm mais ta mto complexo po meo entendimento asuausausuua

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  3. Nossa esse é maravilhoso, adorei seus textos, sua forma de escrita é muito boa, parabéns.
    Esse final então, é muito muito bonito!!!

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