Ela, na viração da tarde, sob a luz crepuscular que lhe conferia beleza austera e suprema, vislumbrava o horizonte sonhando com as cores do dia, mas vendo chegar a noite. Noite escura, sem lua, quando as feridas da privação são curadas com o pecado. Ela era parte disso. Ela rememorava os fracassos em deja-vús. Ela relia linhas educadas pra falar sobre abandono. Ela foi deixada. Ou talvez tenha ido embora. Não, o paraíso não lhe pertence. Ela é produto do caos. A perfeição lhe atordoa e confunde. Ela quer mais. Viveu muito tempo no deserto. Buscou refúgio no Inferno. O menino com nome de anjo tentou salvá-la, mas por fim perdeu a esperança. A sua luz não foi suficiente pra devolver-lhe à vida. Suas palavras não puderam libertá-la. Então se foi. Melhor se afastar. Ela era fascinante, complexa, frágil e forte. Precisava de proteção, mas era insubmissa. Rebelde por natureza, a ela foi negado o brilho das estrelas. Ela estava condenada. Ele não compreendeu. O anjo tentou livrá-la e quase se perdeu. Então, como último aviso luminoso, optou-se pelo frio da diplomacia. A esta altura as maldições já foram todas rogadas. Um acordo. O anjo se afasta, ela simplesmente aceita. Ah, anjo bom, dotado de todas as graças do Grande Arquiteto. Porque pousar os olhos sobre tal criatura profana? Ela é indecisa, insegura e má. Mas com o júri certo, pode ser absolvida. Um dia eles se encontrarão denovo. Ele nos braços de Eva. Ela, maculada e eterna.
Ultraviolet.