“O amor é mesmo uma cisterna promíscua de desejos impotentes”.
(Alain Bisgodufu)
Minha cabeça gira. Gira junto com tudo em volta, como se na xícara houvesse uma mistura de chocolate, whisky e café, e na mão, algumas balinhas coloridas pra acompanhar. Mas não é nada disso. É paixão, doença, obsessão. É você que falta, me deixando jogada nessa cama a olhar fixamente algum canto, querendo escrever na parede seu nome, preencher toda essa brancura impura com meu melhor batom. Nada adiantaria, pois me embriago com meu cheiro tentando encontrar em mim algum vestígio seu. Você não imagina as peripécias a que me proponho pra amenizar essa falta. Você nem deve ter a noção exata do tanto que é necessário pra mim. Minha loucura tem sentido. E você é a razão e o antídoto. Porque não me aceita de vez na sua vida? Assume que eu sou a melhor parte dos seus dias. Enquanto me reviro mirando o vazio, o lado esquerdo da minha cama, tão seu, como tudo aquilo que descansa sobre o lado direito, você segue em passo falsos, ilusões maiores de um cotidiano insano. A verdade sou eu. A sua paz somos nós. E se resolver omitir-se, espero que não se importe em nos condenar a um mundo cinza, e a crises cada vez mais fortes de abstinência. Vício gostoso tudo aquilo que vem de você. Já não me lembro como eu era antes de te conhecer. Minha alma se dobra em meio a som, fúria, e desejo, e assim vou vivendo, me adaptando aos efeitos colaterais dessa ausência. Mas, se de fato morrer de amor, não dispenso seu cortejo.
Ultraviolet.